25 fevereiro 2011

Fernando Pessoa: Vivendo A Angústia Das Pequenas Coisas Ridículas

Final de mês... e nesta postagem homenagearemos mais um grande das artes. Neste mês nosso escolhido é... Fernando Pessoa com sua realidade posta sem máscaras, porém com múltiplas personalidades!

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 - Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.

É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".

Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.

Ao longo da vida trabalhou em várias firmas como correspondente comercial. Foi também empresário, editor, crítico literário, activista político, tradutor, jornalista, inventor, publicitário e publicista, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".

Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos, na cidade onde nasceu. Sua última frase foi escrita em Inglês: "I don't know what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará"). (fonte: wikipedia).





Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


####

E agora fiquem com Fernando Pessoa por Paulo Autran e por Jô Soares.








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22 fevereiro 2011

1001 Filmes: Os Catadores E Eu (Les Glaneurs Et La Glaneuse)

DIREÇÃO: Agnès Varda;
ANO: 2000;
GÊNEROS: Documentário;
NACIONALIDADE: França;
IDIOMA: francês;
ROTEIRO: Agnès Varda;
BASEADO EM: ideia de Agnès Varda;
PRINCIPAIS ATORES: Bodan Litnanski (ele mesmo); Agnès Varda (ela mesma); Jean Laplanche (ele mesmo) e François Wertheimer (ele mesmo).





SINOPSE: "Por toda a França, Agnès Varda encontra catadores e catadoras, respigadores e recuperadores. Por necessidade, acaso ou escolha, eles entram em contato com os restos dos outros. A partir de um célebre quadro de Millet, o filme de Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade contemporânea dos respigadores, aqueles que vivem da recuperação de coisas (detritos, sobras) que os outros não querem ou deixam para trás. A catadora, nesse sentido, é a própria Agnès Varda, que experimentando pela primeira vez uma pequena câmara digital, quer assumir como uma “recuperadora” das imagens que os outros não querem ver nem fazer, e que portanto deixam para trás." (Cinefrance).



"Apesar de ser um documentário onde o título, e até sua sinopse, nos faz imaginar em algo feio, sujo, ruim, repulsivo, etc. retratando catadores de restos e nos obrigando a nos prepararmos para esse tipo de imagem e som, onde na verdade, se revela uma obra muito leve, ampla, entusiasta, bonita e cultural. Esse é um dos méritos do filme, conseguir abordar um assunto repugnante e esteticamente aceitável, agregando ao tema, pinturas que retratem a cultura dos respigadores, mostrando essa cultura em diversas regiões da França no passado e nos dias atuais, o que torna o filme bastante diverso e culturalmente rico, trazendo visões dos próprios respigadores, ou nos dias modernos dos catadores, dos juristas, de pessoas que usam dessa atividade como forma de opção, por se sentirem mais éticos com o mundo e com seus princípios, enfim, misturando ao tema, visões e constatações próximas a ele. Mas o maior mérito do filme, é conseguir constar dessa lista de '1001 Filmes Para Ver Antes De Morrer', mesmo sua idealizadora nunca ter tido contado com câmeras digitais, muito menos de forma profissional, e produzindo um filme amador, que qualquer um de nós poderíamos produzir como trabalho de escola ou faculdade, e mesmo assim, ser selecionado entre milhares de filmes para ser um dos filmes mais importantes do cinema mundial."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"O roteiro de Les Glaneurs Et La Glaneuse teria tudo para embasar uma grande reportagem sensacionalista em programa policial de final de tarde, mas, neste caso, não. Um documentário no qual tive vários ‘espantos’: 1) esperando uma cineasta jovem, conheço a belíssima Agnès Varda com seus 72 anos de sensibilidade; 2) imagens que ninguém quer ver, respigadas por ela; 3) comentários de um grande psicanalista francês ou de pessoas simples que vivem por meio dos restos que catam para comer se entrelaçando; 4) muita arte no meio disso tudo. Assim, o documentário inicia e termina com nota máxima, envolto por arte do começo ao fim com imagens, depoimentos e o belíssimo som da língua francesa, mostrando tudo que temos a aprender sobre arte e cinema com esta simpática senhora que foi aos campos e às ruas para colher depoimentos de forma livre, sem censurar aquilo que vinha das pessoas com quem encontrava. Revirar o lixo ou pegar o que sobra nos campos de colheita é um meio de suprir a necessidade de alguns ou de promover a ética social para outros... e isso é mostrado na obra. Interessante notar que ela coloca sua velhice junto com as frutas e verduras que ninguém mais quer, fala de como ela também está chegando a seu fim e mostra sua mão, envelhecida, como as batatas rejeitadas, toneladas delas. Junto à arte que envolve o filme há a crítica social do desperdício na sociedade contemporânea e de como tudo aquilo que sobra é deixado ali, para quem quiser (ou precisar) pegar, à margem. E se ninguém pegar, que estrague: se não tem valor de mercado, adeus. Até obras de arte são encontradas em porões, na escuridão, sendo que na correria do dia-a-dia quem vai ter tempo para deleitar-se sobre um quadro de museu? Museu... é coisa de velho, asilo. E, neste sentido, um bom complemento a este documentário é o outro, já comentado por nós, Koyaanisqatsi. Na associação livre de imagens e depoimentos, a diretora respiga com paciência, como se os relógios não tivessem ponteiros, apreciando os detalhes sem ter pressa de chegar... aliás, chegar, aonde? Arte de primeira, com beleza, estilo, simplicidade e criatividade, produzida com uma simples câmera digital e com a sensibilidade de uma cineasta francesa na terceira idade."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





Para entender o que são os 1001 Filmes, acesse a página explicativa.

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18 fevereiro 2011

Dois Pontos: O Vermelho Da Rosa

Por Kleber Godoy

Hoje decidimos postar um texto diferente: um conto escrito por mim e um dos vários que tenho escrito e registrado* no decorrer dos anos e que agora, incentivado pelo Jonathan, começo a publicar. Não sei se publico somente este ou se continuo no decorrer das semanas... vamos ver como se dá este primeiro encontro da minha ficção com o mundo exterior.

Para começar, a história de um jovem chamado Tony e de seu amigo Lorde Andrew em um encontro marcado pela presença de uma flor... cor paixão... e que pode te fazer perder a cabeça. Cuidado com esta pequena história de humor negro e... divirta-se... se puder.




O Vermelho da Rosa
(escrito e registrado por Kleber Godoy / pseudônimo: Tommy Callan / *todos os direitos reservados)


“Oi. Está atrasado hoje!”
“Não fique bravo! Tive outros afazeres, mas não me esqueci do nosso encontro.”
“Ahhh... não se lamente tanto. Sem problemas. Eu estava a admirar o jardim enquanto esperava-te. Estava prestando atenção a essa rosa e em como é viva sua cor e esplendida sua beleza. Incrível eu não perceber antes tal beldade.”
“Está muito poético, pequeno Tony. Aos 25 anos é muito bom! Significa que seu espírito jovem está mais vivo do que nunca. É por causa de alguma paixão recente?”
“Oh... Lorde Andrew, sabe que não há paixão alguma. Se houvesse seria o primeiro a saber. O primeiro, antes até de mim!” Havia paixão. Havia muita paixão no coração do jovem Tony. Ele mal percebera que desde a descoberta de sua saúde decadente começara a viver com mais intensidade e ver belezas onde antes não via.
“Na verdade, Lorde Andrew, penso eu que essa rosa é que está apaixonada hoje. Deve ter recebido um olhar diferente daquele lírio, seu vizinho, quem sabe.”
“Não seja bobo! Ela esteve sempre bela. Você que a ignorava.” O vento soprava baixinho naquela tarde. Lembrava tempos clássicos em que os príncipes passeavam por jardins enquanto admiravam a beleza das flores e suas mais diversas cores. Mas só lembrava. Hoje era diferente. Apesar de viver em épocas de príncipes, Tony não tinha nobreza em seu nome nem o azul no sangue. Não passava, agora, de mais um jovem da camada popular. Com gosto refinado e ares de realeza, mas ostentando as contas da vida que lhe caiam às mãos. A doença fazia-o pensar e refletir, renascer em sua juventude.
“Mary já vem com o chá. Sente-se, conte-me mais sobre suas viagens e seus atrasos pelo mundo afora. Muitos reis sendo depostos? Muitos príncipes cometendo delitos sexuais à surdina?”
“Oh sim, muitas coisas acontecendo. Ontem morreu uma duquesa perto de Aires. A coitadinha sofria de um mal estomacal e não parava de comer. Foi sua gula que a matou. Foram necessários seis fortes soldados para carregar o corpo do quarto.”
“Coitada! Essa devia estar mesmo muito ociosa em seu tempo. Já ouvistes falar que os comilões são os que não tem afazeres? Nesse tempo desocupado passam a comer sem parar. Foi o que li outro dia em uma revista.”
“Ah, não acredito em tal teoria. Banalidades, Tony!”
“Rá rá rá... oh... deixe-me explicar melhor. É uma preocupação e uma ansiedade que nasce desse tempo ocioso. A mente conturbada faz o estômago agir com mais fome... fome de uma coisa maior... fome de vida e de ser feliz.”
“Chega! Você está muito teórico hoje. Filosofia para mim, hoje não... não hoje. Afinal vim para saber se está tomando os remédios nos horários corretos.”
“Sim, estou. Mary já vem e poderá confirmar com ela. Mas não agüento mais! A toda hora vem alguém para me trazer este ou aquele copo de água, sucos, ervas e todo um aparato medicamentoso. Quando isso vai terminar?”
“Não fique triste, my friend. Vai passar. É só se cuidar.” Ambos olham para o céu enquanto Lorde Andrew confortava seu amigo. Gaivotas sobrevoam o largo jardim da casa de Tony. O dia parece perfeito para se fazer tudo. Perfeito para os enamorados. E para os passeios em família. Perfeito. Foi então que as nuvens começaram a se fechar anunciando chuva. Tempo fechado que penetra as almas dos rapazes no jardim.
“Tony! Você está chorando! O que está sentindo?”
“Nada. Eu acho que estou um tanto... sensível hoje.”
“Oh meu rapaz. Não fique assim, conte-me o que te aflige!!”
“Andrew, você não pode me ajudar. Ninguém pode. Eu só quero viver. Quero voltar aos bailes e me divertir como antes. Todos me adoravam e ninguém ficava a repulsar minha presença!! Hoje estou sozinho e só você vem me visitar. Todos têm medo de pegar a minha doença e caírem de cama ao terem contato comigo. Eu não sou um monstro! Não sou! Diga isso a ele! Eu não sou um monstro! Diga isso a ele!”
“Ele quem, meu amigo?”
“Ninguém. Devo estar ficando louco.” Diz enquanto limpa as lágrimas e volta a si, controlando-se e mudando a expressão facial. “Ainda tenho algumas crises quando tomo consciência de que vou morrer em breve.”
“Não diga isso. É só um mal que lhe causa tosses chatas e alguns vômitos de sangue. Mas isso vai terminar! Acredite!”
Passado alguns segundos sem palavras, os dois se entreolham como se houvesse uma comunicação extra-sensorial. Não havia palavras, mas havia entendimento. Sim, havia! Havia confiança, segredos revelados e guardados, angústias integrando-se.
“Cof, cof...” Um acesso de tosse interrompe a comunicação e Tony cai ao chão.
“Tony!! Levante-se. Vou chamar seu médico.”
“Não. Eu estou bem agora. Obrigado.” E Tony levanta-se devagar, com dores.
“Eu tenho medo por você. Você precisa se livrar dessas crises depressivas. Aliás, minha presença aqui é para que isso não aconteça mais, lembra-se do nosso pacto?”
“Claro. Amigos para sempre! Apoio seguro e incondicional!” Amigos para sempre. Pacto antigo. Pacto de sangue que Tony e Andrew fizeram. Pacto. Pactos. Pactos eternos, seguros, confiáveis, incondicionais. Era tudo o que Tony precisava!
“Nossa, já é tarde. Preciso ir olhar outras paragens. Você sabe, tenho uma vida um pouco atribulada.”
“Não espera o chá? Mary deve estar chegando com a bandeja.”
“Não posso. Amanhã volto para vê-lo e fico um pouco mais.”
“Você nunca fica até o chá. Mas tudo bem. Importa-me muito sua presença aqui. Apesar de muito pensar e esses pensamentos me deixarem um pouco perturbado, você faz-me esvaziar um pouco a mente fatigada pelos conflitos aqui presentes.”
“Não pense tanto. Descanse mais. Lembre-se da lição de hoje: nunca coma tanto, pois pode morrer pelo excesso. Vale para sua ingestão de teorias e filosofias também! Adeus.” Andrew sai e Tony volta-se novamente para a rosa. Chama-lhe a atenção uma borboleta que sobre ela pousa. Borboleta grande, espessa e negra. Fica ali por alguns segundos. Segundos espessos, fortes, reflexivos, densos. O que estaria Tony pensando nesse momento? Só ele sabe. Segundos espessos, fortes, reflexivos, densos. Segundos espessos, fortes, reflexivos, densos. Segundos espessos, fortes, reflexivos, densos...
E eu estou aqui a observar esses segundos de impacto. A rosa, a borboleta. Negra. Ele, olhar parado. Sentado. Mãos no queixo. Total atenção voltada à cena da rosa. Eu, total atenção voltada a Tony. Segundos se passam e Tony não pisca, não respira, não quer espantar a borboleta. Seu quadro está feito. Seu quadro em preto e em vermelho. Seu quadro, pintado, preto e vermelho Sua arte, pensamentos espessos, densos...
É nesse contexto que Mary chega. Uma senhora gorda, espessa, gelatinosa, rechonchuda. “Tony... seu chá está chegando. Onde está seu amigo?”
“Mary...” Tony diz em voz baixa, quase sem se mover. “Olhe a borboleta. Olhe que cena esplêndida esta borboleta a pousar sobre rosa vermelha! Olhe... olhe...”
“Ora!” Mary agita em seu tom forte e impetuoso. “Não vejo nada de belo nisso. Ela é negra e significa prenúncio de morte segundo a lenda dos antigos.”
“Olha o que fez! Espantou-a! Dê-me logo o chá e saia, sua velha! Quero ficar sozinho. Quero ficar sozinho! Sozinho, sem perturbações!” Agita-se, Tony.
Mary deixa o chá à mesa e volta para os corredores internos do Grande Hospício Hallawel. “Onde já se viu? Um mais louco que o outro! Tem um amigo imaginário que o visita todas as tardes, imagina estar em sua mansão e me têm como uma serviçal sua! Um dia ainda peço demissão desse emprego maldito e me vou para a América trabalhar em outro ofício! Ah, se vou! Eles não perdem por esperar. América, lá vou eu!” Mary, então, pára por um momento e olha para trás. “E ainda diz que é para deixá-lo sozinho! Será que não enxerga a quantidade exagerada de internos que circulam pelo jardim? Valha-me Deus!”
Continua a andar e cruza com dois médicos, de roupas impecavelmente passadas que conversam baixo enquanto andam: “Veja só, esta senhora que acabou de passar por nós. Pensa ela que é a empregada do hospital e até a deixamos levar chá vez ou outra a algum interno.”
“Casos curiosos, doutor, continue...” Respondeu o segundo médico, com voz mais branda e menos grave que o primeiro.
“Vindo trabalhar aqui terá que se habituar a casos como esses. Veja aquele rapaz sentado tomando chá. Está a conversar... com uma rosa. É um caso mais extremo, repare. Coitado... estudava filosofia numa grande universidade. Ficou louco de tanto pensar.”
“Entendo. Apesar de meu pouco tempo de trabalho, aceito o cargo. Farei o melhor possível, doutor.”
“Sim, tenho certeza! Afinal, você foi meu aluno!”
O novo médico pára seu olhar sobre a rosa adiante. A mesma com a qual Tony, agora, conversa e ri desvairadamente. “Aconteceu alguma coisa, garoto? Quer ir até o jardim socializar com os internos?” Ri o médico mais velho. “Podemos ir agora. Seu trabalho começa na segunda.”
“Sabe... estou perplexo. Meus olhos nunca beberam da beleza de rosa tão... pomposa! Nunca antes vi rosa de tão... intensa cor como aquela! Quem é o jardineiro do local??”

######


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15 fevereiro 2011

1001 Filmes: Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou)

DIREÇÃO: Luis Buñuel;
ANO: 1928;
GÊNEROS: Curta e Fantasia;
NACIONALIDADE: França;
IDIOMA: mudo (texto em francês);
ROTEIRO: Luis Buñuel e Salvador Dalí;
BASEADO EM: sonhos de Luis Buñuel e Salvador Dalí;
PRINCIPAIS ATORES: Simone Mareuil (Mulher); Pierre Batcheff (Homem); Luis Buñuel (Homem Do Prólogo); Salvador Dalí (Segundo Seminarista) e Jaime Miravilles (Primeiro Seminarista).





SINOPSE: "O filme não possui uma história na ordem normal dos acontecimentos, passando de "era uma vez" direto para "oito anos depois". Utiliza a lógica dos sonhos, baseado em conceitos da psicanálise de Freud, como o inconsciente e as fantasias. O curta-metragem representa uma reunião de imagens oníricas, encadeadas no vídeo como se fossem um pesadelo, repleto de cenas metafóricas." (Filmow).



"Quando começamos a pensar sobre o filme, cada elemento que vai surgindo nos dá a sensação de ser um filme interessante e imperdível. Imaginar que esse filme conta com a atuação e roteiro de Salvador Dalí, que é o marco do início do surrealismo cinematográfico, ter sido feito em 1928, poder ver cenas de nudez e beijo afrontando os costumes e regras da época, etc. nos força um pré-julgamento que se concretizará ao assistir os 16 minutos do filme. Assim como as pinturas de Dalí, nas quais a nossa primeira impressão é a que faz mais sentido e que tem a maior coerência, no filme também cabe essa análise. A cada tentativa de entender o filme, de localizar um enredo coeso, o nosso sentimento de confusão só se faz aumentar, tornando essa uma obra realmente surrealista. Vale destacar a coragem, em plena década de 1920, de mostrar um homem apalpando uma mulher nua nos seus seios e nádegas, ou então, mostrar em uma das cenas, os pelos das axilas da mulher transferidos para a boca desse homem, onde a clareza do sexo e do desejo se fazem tão claros para a época, como um filme pornográfico que baixamos da internet nos dias de hoje. Por incrível que pareça, esse filme merecia, na sua época, claro, ser o vencedor do Oscar de efeitos especiais (caso já tivesse na época esta categoria). Uma das cenas célebres é onde a personagem de Buñuel corta o globo ocular da personagem de Simone Mareuil, que na verdade, é um olho de boi, cuja a equipe teve o mérito de fazer parecer com um olho humano. O segundo momento de efeitos especiais é quando aparecem formigas saindo da mão da personagem de Pierre Batcheff. Apesar de seu curto tempo de duração, o filme nos traz muitos questionamentos psicanáliticos, culturais e pessoais, agregado à desordem e à 'ficçao' do enredo, nos parecendo ainda mais marcantes e impressionantes."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira






"O curta, estreia de Buñuel como diretor, em conjunto com Salvador Dalí, parece um quadro surrealista em movimento: é como se o segundo tivesse pintado e o primeiro desse o movimento, gerando um filme mudo que presenteia com ótimas atuações (mesmo), com destaque para simplesmente todos os personagens. O resultado é uma obra do inconsciente de ambos, uma obra dos sonhos dos dois amigos, mostrando não somente a subjetividade de ambos, mas a subjetividade 'entre' ambos, aquilo que fica subescrito entre o par e, para complicar ainda mais, entra um terceiro a interpretar, o expectador. Fica para o 'analista' pegar o fio lógico de todo discurso embasado por uma raça específica de cão treinada para devorar homens. O que representa o filme, neste sentido? Um assassino confesso sonhando? Qualquer pessoa mostrando sua (natural) agressividade? Há um fio lógico entre as cenas de sexo, agressividade e morte presentes nos 16 minutos do curta? Cada cena, desde o olho sendo cortado à mão com formigas que corroem o interior do homem, merece ser apreciada. Será um prazer comentar outros filmes de Buñuel aqui em breve." *

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente) *
Kleber Godoy





* Foram feitas modificações neste post pois a primeira vez que assistimos ao filme, este apresentava qualidade visivelmente inferior e duração de 16 minutos, sendo que na nova versão pode-se perceber melhor os detalhes e as atuações, compreendendo o enredo de maneira mais justa com seus 5 minutos a mais. Kleber mudou sua nota de 3 para 5 e acrescentou o seguinte fragmento: '...(mesmo), com destaque para simplesmente todos os personagens...'.


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11 fevereiro 2011

Camisas de Futebol: 8 ou 80

Por Jonathan Pereira

Venho hoje aqui fazer um relato sobre um assunto que ainda não tinha sido abordado aqui no blog: camisas de futebol. Esse assunto e essas peças me atraem de forma única, tenho verdadeira paixão por colecionar esse tipo de vestimenta, que para mim, não são camisas para uso, e sim, peças de coleção que perderam o seu significado original, e passaram a figurar apenas como parte de uma coleção, sem ter a finalidade de uma peça de vestuário.

No amistoso entre Brasil x França, além de marcar o início do calendário futebolístico para a seleção brasileira, também foi bastante aguardado por 2 motivos: 1) a nova camisa da seleção brasileira para a temporada 2011/2013, e; 2) a primeira camisa da seleção francesa confeccionada pela Nike para a temporada 2011/2013. Depois de 40 anos sendo produzida pela Adidas, sendo essa troca uma das mais importantes dos últimos anos no mercado de camisas de futebol de seleções nacionais. (Clique nas imagens para ve-las maiores).


Como pode, uma mesma empresa produzir camisas tão diferentes entre si, e o pior, uma com qualidade, cuidado e beleza superior a outra.

Não entendo como permitiram que produzissem uma camisa para seleção, que tirando a faixa central, parece camisa produzida para seleções sub-17, 19, 20..., sem detalhes, criatividade, etc. e com a faixa central, parecendo a camisa vendida nas ruas em alusão ao uniforme da seleção brasileira. Inovação não há como negar, pois 'Nunca Antes Na História' das camisas de futebol, houve uma faixa tão mal colocada e mal pensada como essa da camisa do Brasil. A camisa mais feia, sem vida e sem graça que vestiu a seleção brasileira, por incrível que pareça, superou as camisas dos anos de 2002 e 2003, que ficam em 2º e 3º lugares, respectivamente, completando o pódio bizarro.


Por outro lado, a compra da Umbro pela Nike fez com que os projetistas da camisa da França, aprendessem um pouco como se fazer camisas simples, clássicas, elegantes e bonitas. A combinação dos 2 tons de azuis escuros, deu um ar de seriedade e imponência às camisas.

Vale ressaltar a tipografia das camisas, que também são bastantes diferentes entre si, não podendo deixar de ressaltar a inovação na tipografia usada pela seleção brasileira, sendo feia ou não, houve a inovação, item bastante difícil de conseguir inovações, uma vez que os elementos para trabalho são reduzidos.

Outro detalhe diferente, foi a solução dada pela Nike para juntar à camisa os adendos (letras, números, escudos, etc), não sei se é uma técnica nova, ou apenas uma borda em volta desses adendos, mas ficou diferente e até então ainda não havia sido usada por outro clube ou seleção.


Sobre as camisas dos goleiros, a do Brasil ficou ainda mais feia e sem graça no cinza e preto (aqui representada pela camisa preta e com faixa em amarelo, já que essa é a primeira que está a venda no Brasil). Já a camisa da França ficou bonita, menos bonita que as camisas de linha, mas ainda sim bonita e exótica, parecia que estava vendo o Freddy Krueger defendendo o gol francês, lembrando também, que até agora, foram lançados apenas o uniforme 'Casa I' da seleção francesa, e no site da loja oficial da FFF (Federação Francesa de Futebol) a camisa do goleiro 'Casa I' utiliza tons de preto e cinza (vide foto abaixo), ao invés do vermelho e preto como usado no jogo.

Agora vamos aguardar como será a camisa reservada da seleção francesa, e tomara que não tenhamos a surpresa negativa como as camisas da seleção brasileira, e sim, mais uma surpresa positiva como a camisa usada neste primeiro jogo pela seleção francesa.


Para quem se interessar pelo assunto, deixo o convite para visitar o álbum online da minha coleção de camisas, que hoje está em 271, segue: http://picasaweb.google.com/jonathan.jgp. Ainda não tenho as camisas motivo desse post, mas com certeza as terei um dia.


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08 fevereiro 2011

1001 Filmes +: Quem Quer Ser Um Milionário? (Slumdog Millionaire)

DIREÇÃO: Danny Boyle;

ANO: 2008;
GÊNEROS: Ação, Drama e Romance;
NACIONALIDADE: EUA e Inglaterra;
IDIOMA: Inglês e Hindi;
ROTEIRO: Simon Beaufoy;
BASEADO EM: livro 'Q & A' do escritor Vikas Swarup;
PRINCIPAIS ATORES: Dev Patel (Jamal Malik adulto); Tanay Chheda (Jamal Malik adolescente); Ayush Mahesh Khedekar (Jamal Malik criança); Freida Pinto (Latika adulta); Tanvi Ganesh Lonkar (Latika adolescente); Rubina Ali (Latika criança); Madhur Mittal (Salim Malik adulto); Ashutosh Lobo Gajiwala (Salim Malik adolescente); Azharuddin Mohammed Ismail (Salim Malik criança); Anil Kapoor (Prem Kumar) e Irrfan Khan (inspetor policial); Saurabh Shukla (Sargento Srinivas); Rajendranath Zutshi (Diretor) como Raj Zutshi; Jira Banjara (Guarda De Segurança do Aerporto) como Hira Banjara; Sheikh Wali (Segurança do Aerporto); Mahesh Manjrekar (Javed); Sanchita Choudhary (Mãe de Jamal); Himanshu Tyagi (Sr. Nanda) e Sharib Hashmi (Prakash).







SINOPSE: "Jamal Malik vem de uma família das favelas de Mumbai, Índia, e está prestes a ganhar o prêmio de 20 milhões de rúpias no programa Quem Quer Ser Um Milionário?, feito que nenhum participante jamais conseguira até então. Visto por toda a população através da televisão, Jamal acaba sendo preso por suspeita de trapaça. Afinal, como um rapaz que morou toda a vida na rua pode ter conhecimento suficiente para vencer o jogo? Teria ele roubado? Ou seria apenas sorte? Para provar sua inocência, Jamal começa a contar a sua história e de onde ele tirou a resposta para cada uma das perguntas, relembrando da sua infância com seu irmão na favela e falando da sua paixão pela jovem Latika." (EfeitoPOP.com).



"Saber que o filme se passa na Índia, segundo país mais populoso do mundo, é nos apresentar o mundo daqui algumas décadas? Uma indagação que persiste durante todo o filme, e que a cada momento acaba se tornando uma certeza. É um filme baste ágil, assustadoramente real e bastante rico. O ditado: 'matar um leão por dia!' faz sentido durante todo o filme, onde o leão é: o irmão, a família, aquele que segue a religião concorrente, a ética, a humildade, a caridade, a irmandade, a coesão e a coerência, o amor, o respeito, etc., ou seja: a dignidade, onde todos parecem não ter forçar para escolher uma vida que não a indigna. Como se não bastasse a luta contra as pessoas e suas perverções, imperfeições e o seu lado negro, que como quase que única, é uma forma de sobrevivência, o ambiente também lhe impõe imagens surpreendentes: as super favelas, os super lixões, a super poluição (oufativa, visual, tátil e sonora), etc. O filme retrata um garoto, que teve todos esses leões a sua frente, e de forma humana e correta, consegue passar por cada um dos obstáculos. Ser um milionário da noite para o dia, respondendo a perguntas em frente a milhões de telespectadores num jogo de TV, acaba sendo apenas a máscara que foi a vitória daquela criança em vencer o jogo da vida, ou seja, tornando-se um adulto digno, onde esse sim, é um Milionário, uma excessão, o diferente. Quem será (conseguirá) ser o novo milionário?"

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"Um filme lindíssimo em imagem, som, montagem e sentimento, mostrando mais uma vez que com pouco dinheiro e belíssimas atuações pode se chegar muito longe. Mostra flashes de uma cultura diferente da nossa, permeado pelo amor de Jamal e Latika, mostrando com maestria os preconceitos e a superposição de classes que predomina na sociedade, desde sempre. Ora, será que um cachorro de favela pode se tornar milionário? E, se ele consegue, que artifícios utiliza para isso? 'Médicos e advogados não passaram de 16 mil; ele está em 10 millhões; o que um favelado pode saber?' Estamos diante de estigmas, marcas que se sobrepõe a todo ser da pessoa, não a deixando aflorar em suas potencialidades. E neste ponto lembro do grande psicólogo existencialista Carl Rogers, acerca do potencial humano para o crescimento e da criatividade como elemento essencial neste caminho, levando a pensar também nas contribuições práticas de outros construtos como a Resiliência – o garoto cego pedindo esmola, mesmo com tanto sofrimento e abuso em sua vida não me pareceu triste – estava sorrindo. Mas veja, o mais grave não é quando a pessoa é estigmatizada, mas sim quando ela aceita e introjeta em si aquilo que nela colocaram. Estamos nesta dinâmica a todo instante ou é impressão minha? A obra mostra Jamal em busca de seu desejo, nada mais, simples assim: 'a cada pergunta fica mais perto de seu grande amor' e, mais do que isso, da realização de seu desejo (em conceito mais amplo, mas que pode ficar assim neste ponto), ou seja, mostra como somos motivados por nossos desejos e como estes nos levam à escolhas e caminhos 'estranhos'. Jamal seguiu seu desejo, que não era o de ficar milionário. Qual o sentido da vida? Qual o meu sentido na vida? Temos coragem em admitir, vivenciar e buscar nossos caminhos? Bem... é mais amplo que tudo isso, mas ficam as questões (mais do que as respostas). As crianças se divertem mesmo em meio a pobreza, morte e lixo e... as pessoas tendem a perder esta capacidade para sorrir no decorrer da vida? Existe um incrível talento para substituir este bom humor por doenças cardíacas, depressão, pânico e outras doenças ditas modernas? Por fim, o que determina o sucesso ou o fracasso nos empenhos da vida? a) trapaças; b) sorte; c) genialidade; d) destino?"

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy






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