26 agosto 2013

Mais Saúde + Você: O Uso Da Criatividade Rumo A Aceitação

Por Kleber Godoy

Quando nos deparamos com uma doença ou somos acometidos por alguma tragédia pessoal, uma enorme gama de sentimentos nos assola. Neste momento passamos por estágios rumo à aceitação de que existe esta realidade e não tem outra forma senão aceitá-la para poder com ela lidar de melhor forma.

Neste sentido, Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça enumerou cinco estágios pelos quais a maioria das pessoas passa quando se tem que lidar com doenças, tragédias ou morte de alguém querido (o luto). Sua teoria é de 1969 e se tornou uma das mais influentes na psicologia e na área mental da medicinal desde então. É o que pretendo explanar rapidamente neste post.



Pensando que desde um problema de saúde até um divórcio precisam de aceitação, a aplicabilidade da teoria é muito rica e ampla. Importante ressaltar que não são fases que se dão de forma matemática, passando de uma para a outra na ordem em que se apresentam, até mesmo porque a vida não é tão matemática assim. Logo, pode-se passar de um estágio para outro, retornar ao anterior, seguir para o próximo, estar em dois estágios ao mesmo tempo... até à aceitação.  Alguns profissionais com quem converso atestam que pelo menos dois dos cinco estágios estão presentes em qualquer problemática que se vive. Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação... vamos falar um pouco sobre elas.

NEGAÇÃO E ISOLAMENTO

Ao se deparar com algo catastrófico na vida há um impacto, um choque. Um sentimento de repulsa ao fato pode surgir e neste momento pode-se dizer: 'Isso não pode estar acontecendo.' Logo, existe a busca por todo tipo de profissionais e pessoas que digam que não é verdade esta realidade que se vivencia. Muitas vezes a pessoa nem percebe que está neste estágio, pois é automático, visto que é humano tentarmos manter a vida e não pensar no seu contrário, tentarmos manter a harmonia e não pensar no oposto. Um sentimento de superioridade aparece como se dissesse 'Sempre dei um jeito em tudo, agora não será diferente...' Não falar sobre o assunto é comum nesta fase. Alguns casos graves de negação envolvem uma recusa radical ao fato: o doente não aceitar o tratamento; o divorciado não aceitar que o outro foi embora e passar a persegui-lo; não se aceitar que o outro morreu e continuar arrumando a mesa para o jantar com o lugar que era dele; etc.

RAIVA

Após um período de rejeição do fato, há a desconfiança de todos os que o atestam e uma revolta que coloca a culpa e o peso para fora de si de forma agressiva. Logo, 'Por que eu? Não é justo.' É comum culpar o mundo, Deus, os outros... e a agressividade surgir com intensidade. Logo, é o outro que fez isso com ele, é Deus, é o mundo, não restando a ele nenhum vestígio de culpa ou reflexão sobre o fato. Há de se tomar cuidado com comportamentos destrutivos para com o outro. Em casais que estão para se separar é comum aquele que não aceita a separação ou que foi traído ter comportamentos de ataques à vida do outro.

NEGAÇÃO E DIÁLOGO

É uma fase de barganha com tudo e todos. É comum voltar-se intensamente à religiosidade e pedir um tempo a mais com a pessoa de quem se separou, um tempo mais com a vida, um tempo a mais... e fazer pactos com os médicos, seguindo todo tratamento como indicado, pois assim se conseguirá a cura ou nem se perceberá realmente com o problema. Em casos de doença, há pacientes que chegam a pedir a resposta para seus médicos: 'Se eu tomar este medicamento, vou me curar?' Em uma traição matrimonial é comum a pessoa tentar agradar o outro de todas as formas, como se quisesse seduzir para o outro não partir. No caso dos casais, talvez esta seja uma fase em que a mágica acontece e há a reconciliação, já que pode haver diálogo. Quando acontece a morte de uma pessoa querida e a pessoa chega ao consultório de psicoterapia é comum perguntar para o psicólogo: 'Vai passar logo, não vai?'

DEPRESSÃO

Choro, tristeza, angústia... já que nada deu certo, o que resta é ficar triste, já que não se conseguiu driblar aquilo que atormenta e envolve. 'Estou tão triste. Por que me preocupar com qualquer coisa?' É comum nesta fase certo isolamento e maior necessidade de contato consigo mesmo. Apesar de em nossa cultura a depressão ser algo negativo, carregada de pré-conceitos, penso que é importante em momentos de vida de crise parar um pouco, desacelerar e ficar um pouco mais em contato consigo mesmo e com os sentimentos que estão surgindo. É algo que os familiares e amigos às vezes não permitem que o outro passe, levando-os aos médicos, dando antidepressivos, dopando... e até privando a pessoa de pensar sobre os seus problemas com a tristeza que lhe convém. É normal se sentir triste quando se perde alguém querido, até que este vazio seja preenchido de alguma forma. O alerta que deve ser mantido é se a pessoa chegar a ter comportamentos autodestrutivos, como suicídio, ai sim necessitando de atenção especializada.

ACEITAÇÃO

Esta fase se apresenta de diversas formas e de jeito muito particular para cada pessoa. Às vezes com um sentimento de que 'Tudo vai acabar bem.' Em outras pessoas com a noção de que 'Preciso descansar e me preocupar menos, só seguir o caminho que se apresenta.' Se aceita que não é o fim do mundo, que se pode lidar com isso e trazer até mesmo benefícios para a vida através dos aprendizados que ficaram. Pensa-se de forma mais clara em estratégias para lidar com o assunto. Fala-se sobre e não se revolta. No caso do luto, a pessoa aceita que o outro partiu e se permite a um processo de integração da vivencia que teve com o outro, ficando-se com as partes boas de um lado e ruins de outro e vendo que ele cumpriu seu dever, terminando sua trajetória. Esta fase envolve a relação da pessoa com a vida, aceitando que há um ciclo de nascimento, vida e morte. Há maior valorização do que se tem enquanto se tem. Os sentimentos estão mais organizados e os comportamentos sem carga agressiva, nem consigo nem com o outro. A paz aparece já que se visualizam de forma clara as potencialidades e as limitações para se lutar contra o problema, assim como que se foi e o que se tem ou aceitar que nada há o que se fazer. No caso de separação conjugal, aceitar talvez signifique deixar a pessoa seguir em frente com sua vida e poder assim seguir com a sua. São variadas as formas de viver e penso que a criatividade aparece justamente nesta fase. Parece ser comum anteceder esta fase uma reflexão profunda sobre toda vida que se teve tentando integrar os diversos fatos e aspectos dela. Assim, no caso do divórcio, pensa-se na vida toda com a pessoa. No caso de uma doença respiratória grave, pensa-se na vida desregrada e com fumos e abusos. No caso de qualquer doença, pensando na vida como um todo, no que se fez, no que deixou de fazer, no que ainda pode se fazer. Tudo isso se dando de forma muito particular e peculiar para cada pessoa/família/vida. Não que seja uma fase em que a felicidade se faz presente. Talvez seja mais uma fase sem muitos sentimentos, mais neutra. Mas pode ser que aqui esteja sim a alegria de estar vivo e poder vivê-la com maior qualidade, prazer, valorização do que precisa e tem valor.


E ai, para sua vivência atual, está dentro de algum destes estágios?


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Kleber Godoy é graduado em Psicologia pela Universidade São Francisco e pós-graduando em Acupuntura Tradicional Chinesa pela Faculdade Einstein em parceria com a Associação Brasileira de Acupuntura e o Instituto Brasileiro de Acupuntura e Psicologia. Atualmente trabalha com Psicoterapia Psicanalítica, Psicoterapia De Grupo e Orientação Profissional nas cidades de Campinas, Piracaia e São Paulo. Entre em contato pelo correio eletrônico: kleberxgodoy@gmail.com
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